Ninguém me obrigava a ler certas coisas. Minha família não tinha o hábito de ler e não havia livros em casa. Tudo o que eu lia se resumia aos livros da escola. Agora, é claro, há uma enorme variedade de informações disponíveis, e qualquer pessoa pode ler a qualquer momento. Naquela época, era mais limitado.
Eu lia histórias em quadrinhos, contos, revistas, tudo o que estava ao meu alcance. Acho que sempre adorei ler. Desde cedo, me vi perdida no mundo das palavras e imagens. Colecionava papéis de carta e ficava horas só lendo aquelas cenas.
Acredito que esse exercício me deixou mais feliz. Vários autores marcaram minha infância: Ziraldo, Monteiro Lobato, Maurício de Souza. Já adolescente, trocava livros de poesia com uma amiga, Roberta Rocco.
Todos os clássicos passaram pelas minhas mãos. Recentemente reli Meu Pé de Laranja Lima, chorei tanto com a narrativa do Zezinho que baixou minha resistência. Suponho que seja uma leitora que usa a imaginação e tenho facilidade em manter minha concentração. Mas longe de decorar qualquer fala, datas ou nomes.
A revista Vida Simples marcou um período importante. Lembrar-se da revista agora é nostálgico. Lia até as publicidades, não passava uma palavra sem ser analisada. A meu pedido, ganhei de aniversário um ano de assinatura. Isso prova meu amor por narrativas inteligentes. Durante o curso de jornalismo, continuei frequentando a biblioteca da faculdade e, neste período, lembro que cogitei um estágio em uma grande livraria. Queria estar naquele ambiente. Minhas intenções eram excelentes, mas me olharam e me julgaram pela capa. Disseram que não havia vaga nenhuma. Mesmo sem incentivo, sem mediadores, eu fui uma leitora assídua. Lia sem ter a informação de que isso me traria repertório, lia como uma criança brinca, sem noção do bem que fazia.
Desde sempre, fiquei livre para fazer minhas escolhas, e isso, de certa forma, me aproximou dos livros. Eu me sentia confortável para ler o que me chamava a atenção. Nada me foi imposto. Leia o que você ama até amar ler. Na pós-graduação, continuei frequentando a biblioteca. A leitura é fruto do condicionamento do ambiente em que vivemos, mas podemos nos descondicionar e recondicionar.
"Machado de Assis, órfão de pai e mãe, nasceu na favela com descendentes escravos. Ele mudou a si mesmo e não deixou o meio interferir nele. O homem pode ser produto de si mesmo."
Livros são grandes amigos, pois é neles que os melhores pensadores dos últimos milhares de anos nos revelam suas pérolas de sabedoria. Os livros, com suas histórias, me transformam. A leitura é um superpoder. Tenho ânimo de um aprendiz perpétuo.
Juciele Hipólito.
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